terça-feira, 22 de outubro de 2013

Um pouco mais sobre o “Sessão Pipoquinha”

por Deise Kober Jeske

Não lembro ao certo como fui apresentada ao projeto, acredito que tenha sido em uma das aulas que a professora Mara desenvolvia nos primeiros semestres da própria Unipampa, mas certamente o que me pescou foi a proposta, o plano e a idéia de levar à comunidade uma extensão da Unipampa, que não por acaso faz do Sessão Pipoquinha um projeto de extensão da Universidade. Talvez a minha modesta cinefilia e o desejo de conhecer mais (e melhor) a produção nacional tenham também me envolvido. Nessa época, a Unipampa ainda era um projeto que tinha acabado de sair do papel, ainda era um “bebê” que acabara de nascer.

Os primeiros meses foram tímidos em relação ao público, lembro-me que havia dias em que apenas a professora Mara, o professor Marcelo, a monitora Luana e eu assistíamos às sessões, que aconteciam às quartas-feiras, inicialmente em alguma sala de aula que “sobrava” na própria Unipampa, quinzenalmente. Com o tempo, a sala de aula que recebia o projeto começou a ficar mais definida: corrijam-me se eu estiver errada, mas acho que era a sala 104, depois passou para a última sala do primeiro andar.

O propósito do projeto “Sessão Pipoquinha” sempre foi discutir questões importantes da nossa sociedade e trazê-las para o nosso dia-a-dia. E dignamente o fazíamos. Dessa forma, não era qualquer obra “que se prestava” ao papel de ser discutido. Não eram os blockbusters que nos interessavam, mas aqueles que, de alguma forma traziam alguma contribuição e/ou acrescentavam certo conhecimento e informação; talvez por isso o público geralmente era pequeno e inicialmente acanhado. Acredito que fui a primeira a ter o certificado de participação como ouvinte (o professor Marcelo até gentilmente me definiu como a “pipoquinha-mor”!)

Com o tempo o projeto foi ganhando mais colaboradores, como a professora Cárlida, a professora Juliana Salbego e outras contribuições como as da professora Denise, etc. Mais à frente vieram novas parcerias, coma integração aoGPHMídia. E quanto mais se colabora, melhor fica. O “Sessão”, então, passou realmente a ser extensão, quando pode ter uma bolsista (a primeira foi a Lilian) e ganhou uma sala fora da Unipampa, no Sindilojas. Com um público que ainda pertencia à comunidade acadêmica, ele foi crescendo e ganhando mais forma, conforme novas turmas iriam surgindo, afinal de contas, a Unipampa cresceu e já era uma “criança”.

Depois, enfim, chegamos ao Sindilojas e mesmo lá uma das características marcantes do Sessão Pipoquinha era a luta para conseguir um cabo de conexão! A Unipampa tinha apenas um e quando já estava em uso, como iríamos fazer para ligar o notebook ao projetor? Como várias vezes aconteceram, às vezes ele desaparecia e o seu Lúcio, responsável pelo Sindilojas, ou outro funcionário gentilmente emprestava.

E quando o filme travava? Nossa! Tinha que fazer o programa rodar o filme novamente e lembrando mais atentamente, acho que uma vez um ouvinte emprestou o seu próprio notebook para o Sessão acontecer. O projeto, apesar de tudo, sempre foi guerreiro, podia fazer chuva, calor (porque não tinha ar condicionado), evento paralelo, o Sessão sempre se fazia presente e aproveitava todas as oportunidades.

Daí eu disputei uma bolsa PBDA e passei a ser a nova bolsista do Sessão Pipoquinha e pude fazer parte "dos bastidores": acompanhei como acontece o processo de escolha do filme, os objetivos daquele semestre até às questões mais práticas, como elaborar a lista de presença, a divulgação da próxima sessão, o "aluguel" do citado cabo de conexão, a reserva da sala no Sindilojas e a criação de novas ferramentas de divulgação e participação: o Blog, o Twitter e um perfil no Facebook. Foi um ano intenso, pois em meio a tudo isso eu estava produzindo o meu TCC. Pensando bem, não há como eu ser a pessoa que sou hoje (as minhas idéias, pensamentos, convicções...) sem o Sessão Pipoquinha, pois o projeto contribuiu muito na minha “formação” (embora muitos pesquisadores não gostem dessa referência).

Se me perguntarem qual filme mais me marcou a resposta está na ponta da língua: "Narradores de Javé" (2003), de Eliane Caffé. O filme basicamente se tornou o "Sessão da tarde" do projeto, visto que já esteve presente em diversos momentos do Sessão Pipoquinha. Basicamente a obra descreve a importância das informações que estão no papel. É o papel que prova uma informação. Não adianta chorar, se não está no papel, a validade da informação não existe. O filme discorre em torno de uma cidade que não está no mapa, tecnicamente ela não existe e então questões como o "científico" e o "popular" são pontuados de forma que o espectador faça questionamentos importantes sobre política, sociedade, educação, etc.

Foram muitos os filmes que problematizaram tantas questões pertinentes a nossa época, vide "Matrix" (1999), "Transamérica" (2005), "Tudo sobre minha mãe" (1999), "Quanto vale ou é por quilo?" (2005), entre muitos outros títulos. Depois de todo esse trabalho, eu passei o bastão para o bolsista Renan Guerra.

Enfim, acredito que agora o projeto já tenha um público bem mais diversificado e amplo. É importante que se invistam mais recursos em projetos como esse e que se entenda a importância que eles têm. Deixei o projeto com uma dívida de gratidão. Sinto saudade dele, e espero revê-lo em breve.

"Narradores de Javé"

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Eu e o Pipoquinha


Renan Guerra

Nasci no tempo em os que os cinemas foram se esvaindo, sumindo das ruas e das pequenas cidades, adentrando aos grandes shoppings. Num tempo em que o valor dos ingressos subiu e as legendas estão a caminho do desaparecimento. Acostumado a rebobinar fitas VHS, tive meu primeiro contato com uma sala de cinema já aos sete anos, numa sessão de “Bater ou correr em Londres”, com o Jackie Chan. O filme não era bom, óbvio, mas foi uma obra-prima aos meus olhos de criança, pois ver tudo grande, inclusive o nariz do Owen Wilson, que ficava ainda mais imenso na grande tela, era fantástico. Cada cena daquele western fajuto me encantou de um modo: o som do galope dos cavalos, os tiros que vinham de todos os lados, o maravilhoso som do trem. Ali o cinema enfim se fazia presente no seu momento mais forte em minha vida.

Renan em foto de Nycolas Ribeiro
Nessa de um amor incomensurável pela sétima arte, eis que quando chego na Unipampa, em 2010, descubro o projeto que me acompanharia durante todo meu percurso acadêmico: o Sessão Pipoquinha. Na minha primeira sessão, vi “O Banheiro do Papa”, numa Câmara de Vereadores lotada e, mesmo com o amargor que o filme deixou em minha boca, sabia que aquele projeto tinha algo que me encantava.

Numa sessão de “Tudo sobre minha mãe”, naquele mesmo ano, percebi que aquelas pessoas eram das minhas! Este filme de 1999 é o meu preferido de Pedro Almodóvar, daqueles que guardo o VHS com carinho. E, nestes acasos tão cinematográficos quanto a vida, eis que encontro na fronteira-oeste um grupo de pessoas que mais que amar o cinema, ainda amam Almodóvar. Havia me encontrado e encontrado aqueles que formam/formaram esse atual Renan, que agora vem acompanhado do epíteto ‘Pipoquinha’.

De sessões lotadas as quase vazias, foi no Pipoquinha que chorei ao ver “Cinema Paradiso” e onde passei a compreender cada dia mais o cinema (e por conseguinte, a vida). Foi em nosso espaço quase improvisado no Sindilojas que vi os públicos mais diversos, vendo filmes mais diversos e estranhos ainda, desde nossa corajosa sessão de “Transamérica” até uma lotada sessão de “Salve o Cinema”, do iraniano Mohsen Makhmalbaf. 


Dos nossos problemas técnicos, tirávamos mais manhas, como na sessão em que tudo travou: o filme, os computadores e nada nos restava, aí a Aline Sant’Ana vira e diz “tenho um curta aqui bem legal, vamos assistir?” e a sessão não se perdeu. Cada dia de Pipoquinha é um cansativo, há dias em que não há um pingo de força para conduzir mais uma sessão, mas parece que sempre é recompensador, pois o cinema sempre encanta alguém. Como uma espécie de Amélie Poulain a olhar para a cara da platéia ao invés da tela do cinema, é impossível não ficar atento a cada expressão e a cada risada durante a projeção. Por exemplo, os olhos mareados da maioria após a exibição de “O Menino do Pijama Listrado” ou os risos rasgados em “Mulheres à beira de um ataque de nervos”.

Há uma mágica no cinema, que eu apregôo especialmente ao fato de várias pessoas se reunirem durante um tempo determinado para abandonarem um pouco suas vidas e com isso encará-la novamente, com mais garra. Seria isso a catarse de uma epifania coletiva e é isso que me encanta a cada nova sessão.