sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Eu e o Pipoquinha


Renan Guerra

Nasci no tempo em os que os cinemas foram se esvaindo, sumindo das ruas e das pequenas cidades, adentrando aos grandes shoppings. Num tempo em que o valor dos ingressos subiu e as legendas estão a caminho do desaparecimento. Acostumado a rebobinar fitas VHS, tive meu primeiro contato com uma sala de cinema já aos sete anos, numa sessão de “Bater ou correr em Londres”, com o Jackie Chan. O filme não era bom, óbvio, mas foi uma obra-prima aos meus olhos de criança, pois ver tudo grande, inclusive o nariz do Owen Wilson, que ficava ainda mais imenso na grande tela, era fantástico. Cada cena daquele western fajuto me encantou de um modo: o som do galope dos cavalos, os tiros que vinham de todos os lados, o maravilhoso som do trem. Ali o cinema enfim se fazia presente no seu momento mais forte em minha vida.

Renan em foto de Nycolas Ribeiro
Nessa de um amor incomensurável pela sétima arte, eis que quando chego na Unipampa, em 2010, descubro o projeto que me acompanharia durante todo meu percurso acadêmico: o Sessão Pipoquinha. Na minha primeira sessão, vi “O Banheiro do Papa”, numa Câmara de Vereadores lotada e, mesmo com o amargor que o filme deixou em minha boca, sabia que aquele projeto tinha algo que me encantava.

Numa sessão de “Tudo sobre minha mãe”, naquele mesmo ano, percebi que aquelas pessoas eram das minhas! Este filme de 1999 é o meu preferido de Pedro Almodóvar, daqueles que guardo o VHS com carinho. E, nestes acasos tão cinematográficos quanto a vida, eis que encontro na fronteira-oeste um grupo de pessoas que mais que amar o cinema, ainda amam Almodóvar. Havia me encontrado e encontrado aqueles que formam/formaram esse atual Renan, que agora vem acompanhado do epíteto ‘Pipoquinha’.

De sessões lotadas as quase vazias, foi no Pipoquinha que chorei ao ver “Cinema Paradiso” e onde passei a compreender cada dia mais o cinema (e por conseguinte, a vida). Foi em nosso espaço quase improvisado no Sindilojas que vi os públicos mais diversos, vendo filmes mais diversos e estranhos ainda, desde nossa corajosa sessão de “Transamérica” até uma lotada sessão de “Salve o Cinema”, do iraniano Mohsen Makhmalbaf. 


Dos nossos problemas técnicos, tirávamos mais manhas, como na sessão em que tudo travou: o filme, os computadores e nada nos restava, aí a Aline Sant’Ana vira e diz “tenho um curta aqui bem legal, vamos assistir?” e a sessão não se perdeu. Cada dia de Pipoquinha é um cansativo, há dias em que não há um pingo de força para conduzir mais uma sessão, mas parece que sempre é recompensador, pois o cinema sempre encanta alguém. Como uma espécie de Amélie Poulain a olhar para a cara da platéia ao invés da tela do cinema, é impossível não ficar atento a cada expressão e a cada risada durante a projeção. Por exemplo, os olhos mareados da maioria após a exibição de “O Menino do Pijama Listrado” ou os risos rasgados em “Mulheres à beira de um ataque de nervos”.

Há uma mágica no cinema, que eu apregôo especialmente ao fato de várias pessoas se reunirem durante um tempo determinado para abandonarem um pouco suas vidas e com isso encará-la novamente, com mais garra. Seria isso a catarse de uma epifania coletiva e é isso que me encanta a cada nova sessão.

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